Indicado a três categorias do Oscar, o filme Sing Sing chega aos cinemas de todo o Brasil em 13 de fevereiro, contando uma história real sobre o poder transformador da arte.
Do diretor Greg Kwedar, o longa acompanha detentos que, dentro da penitenciária que dá nome ao filme, encontram acolhimento e propósito ao formar um grupo de teatro, no qual encenam grandes clássicos de Shakespeare e peças autorais. |
A iniciativa retratada no filme, chamada Rehabilitation Through the Arts (RTA), existe de fato e tem efeitos positivos comprovados: enquanto a média nacional de reincidência nas prisões dos Estados Unidos é acima de 60%, entre os participantes do RTA é abaixo de 5%. Ainda assim, são poucos aqueles que são familiarizados com o programa. O próprio Kwedar conheceu o RTA por acaso, em 2016, quando foi ajudar um amigo que produzia um curta documental dentro de uma prisão de segurança máxima.
Passando pelos corredores da penitenciária, o cineasta se deparou com um detento em sua cela, acompanhado de um cão resgatado. "Meu mundo virou de ponta-cabeça", lembra. Naquele instante, ele entendeu que se tratava de um programa de reabilitação tanto para o homem, quanto para o animal. Emocionado com a relação de companheirismo entre eles, Kwedar começou a pesquisar outras iniciativas diferentes nos presídios nos EUA, e foi assim que descobriu o programa que inspiraria o seu filme.
A fagulha para a trama veio quando leu um artigo na Esquire, sobre uma das peças montadas pelo grupo, intitulada "Breakin' the Mummy's Code" – um musical original, centrado em uma viagem no tempo. "Tinha algo no tom [da obra], o drama inerente do ambiente difícil [da prisão] e a experiência humana transformadora, justapostos à leveza de uma comédia maluca", conta Kwedar. "Pensei que talvez este pudesse ser o pontapé para contar uma história que mostrasse para as pessoas a capacidade de alguns indivíduos, que são ou estereotipados, ou esquecidos.”
Para chegar ao que hoje é um forte candidato ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, Kwedar e seu colaborador de longa data, o roteirista Clint Bentley, mergulharam em pesquisas. Contando com a ajuda de pessoas envolvidas no RTA, como o dramaturgo e diretor de teatro Brent Buell, interpretado no filme pelo ator Paul Raci ("O Som do Silêncio"), eles foram em busca do melhor jeito para contar essa história. |
"Muitas pessoas veem a prisão como um ambiente propício para o drama, mas a gente sempre tenta escolher um mundo que é inerentemente interessante, mas encontrar jeitos diferentes de navegá-lo", explica Bentley.
A dupla, então, encontrou duas âncoras narrativas muito poderosas de John “Divine G” Whitfield e Clarence "Divine Eye" Maclin, ambos antigos membros do RTA.
A aproximação de Divine Eye com o RTA se deu quase por acidente. Na época considerado uma espécie de lobo solitário,m ele extorquia outros detentos e vendia drogas na prisão, tendo muito pouco interesse em qualquer atividade artística. Contudo, num dia chuvoso, ele foi obrigado a "fazer negócios" na capela da prisão, onde o RTA apresentava uma de suas peças e, ali, viu presos expressando suas emoções livremente, sem serem considerados fracos. |
"No palco, a história era outra. Era entretenimento", lembra Maclin, que interpreta a si mesmo no filme. "Não demorou muito para que eu percebesse que aqueles caras tinham filhos, como eu. Mães que se importavam com eles, como a minha. Fora do RTA, eu nunca pensaria nos relacionamentos dos outros".
"Nossas vidas mudaram depois que conhecemos os Divines", afirma Bentley que, como Kwedar, foi imediatamente impactado pela presença magnética de ambos, cada um à sua maneira. "Divine G tem intensidade e foco, é uma pessoa que não perde um segundo da vida. Já Clarence tem um carisma irrefreável e uma sabedoria profunda, conquistada com lições duras da vida", analisa Kwedar. "Os dois foram muito abertos e vulneráveis ao dividir suas histórias com a gente". Não à toa, o roteiro foi feito a oito mãos, com a colaboração ativa de Divine G e Maclin.
Com estreia marcada para 13 de fevereiro, SING SING é distribuído pela Diamond Films e concorre a prêmios nas categorias Melhor Ator para Colman Domingo, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Canção Original. |
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